Nas conversas que esporadicamente tenho com Monárquicos ditos liberais, assumem estes, sempre, que a única forma de possível Monarquia em Portugal é a sua (não a nossa, repare-se no explícito faccionismo), a única realisticamente passível de implantação, em uma sociedade apática com a Monarquia, como é a atual. Não me surpreendo. Com esta Monarquia fantasiosa, até eu cessaria do meu monarquismo. "Isso é uma ameaça?", penso. E é, de facto, um pensamento credível. Devo delinear a minha sinceridade: não enveredei à conceção tradicionalista pela Fé, que é mais tardia. Alicerçei-me na História, passando à Política, e daí surge a Santa Religião nos meus pensares. Eu, portanto, compreendera ateiamente o fracasso da Monarquia Constitucional, sendo por isso um fraquejo de pensamento assimilar o meu desprezo a esta maledicência por cegueira religiosa (que tenho agora, Graças a Deus). O Monárquico de 1908 deixou a Monarquia esfrangalhar-se nas suas contradições, e só nos tempos do despautério da Primeira República é que acordaram as primeiras vagas de Monárquicos Liberais com o cantarolar da sua bela Carta Constitucional. Tão bela e perfeita era que modificou-se bons pares de vezes. Em 28, bendito ano, a República degenera, pois é da degeneração da República que a República melhora. A República só funcionara em Portugal, quando mutilada dos seus princípios democráticos. Chegaram os Monárquicos Liberais como centopeias a S. Bento, pedindo encarecidamente a Monarquia no próximo episódio da vida instável do século XX português. Virtuoso Salazar, que os correu de replantarem nas Instituições, o pior tipo de seiva. Mas veja-se, que mal tem a Monarquia Constitucional? Respondo sucintamente: tudo. Tudo, porque este todo é uma contradição patente já ao princípio. A Monarquia é o Governo de Um, a Democracia é o Governo de Todos. Ora, a Monarquia Constitucional não pode ser monárquica, porque é também o Governo de Todos. E não pode ser democrática, pois é também o Governo de Um. O que fôra este regime, então? Fôra uma plutocracia bancocrata, representada nos grupúsculos das Cortes Constituintes. Uma usura generalizada. A Liberdade foi colocada num plano superior à Justiça, gerando o condicionalismo totalitário do Rei à aura despótica dos deputados, comprados pelas maiores chefaturas monopolistas da altura. O Poder entregara-se à maioria parlamentar, com a supremacia do poder Legislativo sobre o poder Executivo. Os reinados obscuros dos "líderes" constitucionais isso o demonstram, com os partidos exercendo pressão ao Rei, mediante o interesse vigente. Quando o Rei agiu firmemente como Rei, morreu assassinado às mãos de uns conducentes do PRP (porque raios permitiu-se um partido Republicano, de tal atitude obsoleta - democracia, sei eu bem). Com a doutrina sentimentalista e submissa a que os Reis foram submetidos, desde os tempos do traidor D. Pedro, estava dado o último pregar no caixão deste regime transitório, intermediário, sem noções autênticas. É o regime dos ambiciosos, tal qual a República. É o regime da cegueira material, tal qual a República. Infraestruturas pagas a empréstimos exorbitantes, com a paulatina queda do sentido da Autoridade e da Ordem, às mãos do livre-cambismo que avassalou os farrapos de autossuficiência que nos restavam. O produto final deste Regime, exatamente como na República, eram os oradores natos. Como não se necessitava de comentadores da bola, mas sim de Estadistas, não admira que o vendaval Constitucional não suscitasse um palmo de boa coisa. Antes um Sidónio a voar, que dois Pereiras de Melo a chilrear nos meus aposentos. Corre muito quem quer, mas corre muito mais quem foge, os traidores nacionais a quem o Inquiridor chegará sorridente, no tempo áureo que só a Providência saberá. E, na esperança que estes republicanos de bagatela, dizendo-se ilicitamente monárquicos, se curem defronte à incapacidade semântica deste monarqueirismo, exprimo a ideia pura e perfeita de D. Miguel I, o último Rei, de facto Rei, de Portugal.
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